terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Um pouco da minha história...


              Eu nasci em São Paulo, bem no centro, no hospital São Paulo. Filha de uma mineira, com 1 metro e meio, que contanto até o último fio de cabelo, dava 1,53 e que aos 21 anos de idade mandou arrancar todos os dentes e colocou dentadura. Acreditava ser mais fácil e barato cuidar da dentadura do que escovar os dentes de verdade! Sério! Nunca conheci os dentes de minha mãe. Quando eu nasci ela já usava dentadura!
                Meu pai um negro de dois metros e cinco de altura, isso mesmo 2,05 metros, segundo minha mãe muito bonito, por quem ela fora realmente apaixonada. Mas o sujeito bebia, ficava ciumento e batia nela. Resultado: Depois de uma briga em que minha pegou uma faca e jogou de longe grudando a orelha de meu pai na parede do barraco em que moravam, ela foi embora.  Considero minha mãe uma heroína, porque naquela época a mulheres ficavam apanhando e ela tomou outra decisão, uma mulher pequena, mas muito forte. 
              Não pense que esta história me entristece! Sou só mais uma brasileira com histórias desse tipo e que deu certo. Na verdade me considero uma pessoa de sorte, a começar pelo meu nome! Meu nome é Shirley porque todos os anjos e demônios estavam de plantão quando minha mãe, semi analfabeta, deu a meu pai, analfabeto de várias gerações, um pedaço de papel e um lápis preto e mandou que ele fosse até ao cinema copiar o nome da artista principal, Shirley Macklaine, que era o nome que ela queria para sua filha que acabara de nascer, eu. Sendo o Brasil um país onde os pais colocam o nome que querem nos filhos, (Xerox, Fotocópia e Autenticada que não me deixam mentir) e considerando que meu pai foi sozinho, isso mesmo sozinho copiar o nome  e depois  fazer o meu registro, na melhor das hipóteses eu poderia ter me chamado “Estrelando”, no entanto meu pai fez a cópia correta, até com Sh e Y.  Só por isso posso me considerar uma pessoa de sorte. 
                Bom o primeiro casamento de minha mãe não deu certo, ela foi embora, comigo pela mão com um ano e meio e com meu irmão no colo, com sete meses, para casa de minha tia Dona Merces, a megera! Não posso dizer que a detestava, tinha até uma ponta de agradecimento, porque de uma forma ou de outra ela nos acolheu por quase um ano na sua pensão. Tudo bem que para isso minha mãe tinha de trabalhar para ela a troco de comida. Eu só ia almoçar quase duas horas da tarde quando o movimento diminuía e minha mãe podia parar para me alimentar. Meu irmão, Michel, nessa época começando a engatinhar ficava com o pezinho amarrado na mesa para não subir na cama da minha tia. Difícil, mas verdade, ela não gostava de ninguém na cama dela. Era uma velha louca que não gostava de fato de ninguém, nem dela mesma, mas que dentro dessa loucura nos ajudou. A vida deu voltas e tempos depois ela perdeu tudo e minha mãe a acolheu, de forma muito melhor do que foi acolhida, mas isso é outra parte da história, para outro dia. Foi nesse lugar que minha mãe conheceu seu João Benício, que vira a ser meu padrasto.
                Nordestino, bronco, trabalhador, homem do tempo que se empenhava a palavra com os fios do bigode e que  palavra dada era cumprida. Minha mãe ficou grávida  do tal Sr. João, brigaram e se separam. Ela deu a luz a uma menina, minha irmã Geisa. Sozinha, com três crianças pequenas, morando na casa da irmã, doida, sem perspectiva de futuro, entrou em desespero, e no auge deste, levou os filhos para o prédio do juizado de menores que ficava próximo a estação São Judas do Metro. Pretendia entregar as crianças para que, se tivessem sorte, fossem adotadas. Como ainda eram pequenas, tinham mais chance. Acreditava realmente que estava nos dando a possibilidade de uma vida melhor.
                Conversou com uma assistente social e com uma psicóloga, e graças a análise dessa segunda recebeu uma ajuda financeira do estado para ficar com as crianças. A psicóloga  concluiu que minha mãe, visivelmente em depressão, quadro do qual ela nunca se curou de fato, se atiraria do Viaduto do chá quando saísse dali, tinha claras intenções de suicídio e não queria entregar os filhos por negligência e sim por amor. Ela tinha razão em tudo. 
                Não existia o bolsa família, mas havia a pensão, mais difícil de conseguir. Nós conseguimos. Graças a esta ajuda minha mãe voltou para casa com os filhos. Arrumou as malas e decidiu que iria voltar para sua terra natal, morar com a mãe em Minas Gerais. 
                  Foi até o bairro do Campanário, em Diadema, para que o Sr. João se despedisse da filha. Já estava mesmo com as malas, dali iria direto para a rodoviária e pegaria um ônibus para Minas Gerais, mas, (que bom que sempre existe um mas) o Sr. João não deixou, ao ver a filha mandou descer as malas, e com aquele jeito de homem machão, bronco mas que não foge a sua responsabilidade, (tipo que andou fora de moda por um tempo) não a deixou ir. Assumiu a mulher e as três crianças.
                  Passamos a primeira noite num quartinho que ele dormia com um irmão. No dia seguinte ele já havia alugado uma casa e comprado fogão cama e geladeira e mudado para lá com toda a nova família. Eles viveram juntos até que a morte os separou, levando primeiro minha mãe. Meu padrasto nunca quis ser chamado de pai, nem mesmo pela própria filha que o chama de Tio até hoje, por isso eu o chamo de JB (João Benício), mas nem por isso o amo menos que qualquer filho pode amar a um pai e devo a ele tudo que sou, que do seu jeito foi o melhor pai que eu poderia querer.  E esse é só o começo da minha história de brasileira, corinthiana, sofredora, mas com sorte! Isso ninguém pode negar! Graças a Deus!
 
Bjokas Shirley

Cabelo, cabeleira, descabelada, cabeluda!! Reedição do Manifesto em favor dos cabelos crespos



O que é o povo brasileiro se não uma síntese de vários povos? O que somos nós se não o resultado das sínteses destas culturas e a ressignificação de diferentes valores, costumes e etnias que nos acompanha nas características físicas, bastante misturadas, que carregamos! Somos negros e louros, japoneses e mouros, magros, baixos, gordos e altos. Somos japoneses no samba, negros no bolero, louros no mambo, mulatos na bossa nova, brancos no choro, e todos em todos os lugares e não há nada de errado nisso!

A declaração universal pelo direito a diversidade coloca em seu primeiro artigo, lindamente, que a diversidade cultural é tão importante para a humanidade quanto a diversidade biológica o é para a natureza. Pois bem exatamente por ser o brasileiro esta mistura de povos que muitas vezes se discute que quem pertence a este ou aquele grupo não pode ser definida apenas por traços físicos, é preciso também que o sujeito se sinta pertencente ao grupo a que esta sendo indicado.

Os cabelos de uma pessoa dizem muito sobre ela, dizem muito sobre a que cultura ela esta ligada e a que padrões ela se identifica ou é forçada a se identificar, pois apesar da beleza da Declaração Universal a mídia reforça muito um tipo como padrão de beleza. A ditadura da moda imposta e divulgada por veículos de comunicação de massa arrebatam milhares de seguidores homens e mulheres. Assim cria-se um verdadeiro culto aos cabelos lisos e para se ter madeixas cada vez mais esticadinhas são inventados a cada ano um novo processo químico que os garantam: Chapinhas, pranchas, escova permanente, escova japonesa, definitiva, chocolate, indiana, progressiva e muitas outras.

Não critico os milhares que buscam estes métodos para alisar cada vez mais seus cabelos, tão pouco entendo as pessoas cujos cabelos já são lisos e que ainda assim submetem-se a estes processos químicos para ter os seus “roboticamente” esticados, mas procuro os respeitar, pois tenho eu também minhas vaidades capilares.

Confesso que nunca me considerei uma pessoa vaidosa, até aparecerem meus primeiros cabelos brancos. Nunca achei que isto me incomodaria tanto, mas incomodou, e eu que nunca fui de pintar cabelo tornei-me discípula de Loreal, e tenho praticamente um altar, uma prateleira no meu armário, dedicado a caixinha de tintas que não fica vazia de forma alguma. Quando me olho no espelho e vejo se espalhando bem na minha testa aquela mecha de cabelos brancos que insiste em afrontar-me, fico realmente irritada, sinto me transformando em Mortiça Adams ou em Cruela Cruel do 101 Dálmatas e para impedir esta transformação lanço mão da tinta e acabo com elas, mas faço isso por opção e não por imposição.

Não tenho intenção, portanto, de fazer uma crítica aos cabelos lisos ou uma apologia contra a chapinha, venho apenas exigir que se respeite os meus cabelo enrolados e volumosos. Assim como algumas pessoas amam seus cabelos lisos, os meus cachos fazem parte de mim e eu os amo igualmente. Completam minha silueta e fazem parte de minha personalidade. Dizem quem sou e nele me reconheço.

Quero ter liberdade de poder andar com meus cabelos soltos sem ouvir piadinhas infames: “Cabelo crespo é igual a bandido, esta preso ou armado!” e perguntas idiotas, tão idiotas quanto quem as faz: “ Dormiu em frente ao ventilador?” “ Tá revoltada hoje?” Sem contar aqueles que na tentativa de parecer menos preconceituosos vem expressar sua opinião, sem ter sido perguntado nada: “Admiro sua coragem, você assume seu cabelo, você demonstra que uma pessoa de atitude!”, ou pior “Pra usar o cabelo assim tem de ter atitude!”.

Gente!? Quem perguntou alguma coisa? Eu quando saio com meu cabelo solto não estou perguntando nada, não tem nada a ver com atitude, ou até tem! Estou apenas querendo ser feliz, estou bem. Porque estas opiniões não são oferecidas as pessoas com os cabelos lisos e soltos também? Porque só são necessárias para reafirmar a “coragem” das pessoas com cabelos crespos? De fato o que estão querendo me dizer “Filhinha é muita coragem sua sair com esssssssse cabelo!!!” ou “ Eu jamais sairia na rua desse jeito!” Isso entre outras coisas, tá bom, eu já entendi! E daí!?

Que se danem essas pessoas!! Parem com este tipo de piadinhas que só demonstram quão preconceituosos ainda somos, demonstram como apesar das recomendações e de leis, pessoas como eu sofrem e muito o preconceito velado e declarado, pois muitas vezes para evitar piadas e comentários sem graça ficam com os cabelos presos ou aderem à moda das químicas alisadoras.

Que saibam todos que esta não será minha opção, vou continuar a andar com meus cabelos ao vento, prenderei quanto eu tiver vontade, mas andarei com ele solto quando quiser. Estes comentários xucros só servirão para fortalecer minha decisão e afrontar-lhes com o descaso a suas opiniões, opiniões que eu não perguntei, então, por favor, poupem-me deles. Respeitem o direito meu e das futuras gerações de optar, mas optar mesmo, por ter seu cabelo ondulado ou não!!

Pelo direito de viver minha opção étnica, pelo direito de demonstrar minha diversidade e pelo direito de ter e andar com meus cabelos ondulados e volumosos soltos, termino este manifesto. Quem gostar obrigado, quem não gostar igual!

Shirley de Souza.

 

O retorno


                Nossa quanto tempo não escrevo no meu blog. Descobri que gosto de escrever, sinto vontade de exercitar, de colocar minha opinião e deixá-la registrado. Não sei de onde ela vem ou quando me dei conta desta "coisinha" que me cutuca e me dá esta vontade de transformar palavras em ideias, sei que comecei a escrever porque queria sentir a dificuldade da escrita na pele, antes de pedir aos alunos que o fizessem. Quando eu era aluna escrevia de forma mecânica e sofri muito por isso. As redações de número certo de linhas, o exagero de cobrança em ortografia não me trouxeram muita alegria, queria fazer diferente com os meus alunos e isso me fez procurar desenvolver a capacidade de escrever.

                No início era apenas uma busca técnica, no entanto durante um curso com Alfredina Nery em que ela nos pediu que escrevêssemos sem nos preocuparmos com regras, "apenas escreva", e foi o que eu fiz, depois ouvi: " Olha aqui Shirley, escrever é 5 minutos de inspiração e 95 de transpiração, você inspira muito bem, parabéns! Agora vamos transpirar!" Essa fala foi a redescoberta da roda. Percebi que eu podia deixar-me solta e só depois me preocupar com as normas técnicas que tanto me atrapalhavam, achei o meu caminho.

                Não me considero uma escritora, somente alguém que faz uso da palavra escrita para colocar seus pensamentos, e isso para mim já basta, nem sei se as pessoas gostarão de que escrevo, nem sei se será lido por alguém mais que eu, mas esse é o risco de se expor, não tenho problemas com isso, aceito-o.

                Ainda assim fiquei muito tempo longe deste blog, a escrita não deixei de fazer, escrevo em vários lugares, tenho textos espalhado pelo computador, nos meus cadernos, fichas entre outros, mas nada organizado, tudo muito solto. Outro dia fiquei indignada com mais uma reportagem de estupro coletivo e escrevi minha opinião, mas que ficou presa no computador, e o blog aqui parado.

                Porque resolvi retomá-lo? Sabe quando você tem a grata satisfação de conhece pessoas deliciosamente interessantes em momentos nada a ver? Pois é, conheci um rapaz, o Thiago, que já era conhecido, em reuniões de trabalho e através da mãe dele que trabalha comigo, mas de fato nos reconhecemos num momento em que comprávamos perfumarias. Sem nenhum motivo aparente começamos a conversar sobre escrever, ele me dizendo sobre suas poesias e seu blog eu lhe disse da minha incapacidade de ser poeta e que gostaria de ler o que ele escrevia. Ele me perguntou se eu escrevia e eu lhe disse que tinha um blog também com algumas ideias, mas que era algo mais parecido com crônicas, porém estavam abandonados já a algum tempo. Ele me incentivou de forma tão carinhosa a retomar, a trocar endereços e de nos visitarmos pelos blogs, e cada um apreciar a escrita do outro, que fiquei tentada a retomar, a ter alguém com quem compartilhar.

                Fiquei realmente comovida com aquele momento, como ele realmente ama suas letras, expõe seu pensamentos sem preocupar-se, apenas escreve para quem quiser ler. Assim antes de me identificar no blog dele, numa atitude de auto crítica, porque ele manda muito bem, resolvi rever o meu. Reli minhas escritas e como fiquei feliz em reencontrá-las, não é um Saramago, bem longe disso, mas gostei mesmo do que li. Hoje faria muita coisa diferente, pretendo até reeditar algumas, mas amei o que esta aqui, e agradeci ao momento bendito em que encontrei o Thiago.

                Não vou assumir o compromisso de estar aqui todos os dias, mas toda vez que tiver vontade de registrar as coisas do meu dia a dia não as deixarei mais perdidas por ai, virei publicá-las aqui.

                Quem lerá? Não sei. Isso importa? Estou aberta a todos, que venha a "Diversitas", e se quiser, adorarei receber alguns comentários, os que forem elogiosos, gostosos, carinhosos eu degustarei vagarosamente, os que não me parecerem bons serão também apreciados, críticas também nos fazem crescer e remédios amargos também curam, agora, os que vierem apenas com o intuito de "encher o saco" podem fazê-los, mas serão sem dúvidas ignorados, não se preocupem, eu não vou me abater, isso é um compromisso.  

                  Quem quiser conhecer o blog do Thiago, vale a pena, acesse palavrasegavetas.blogspot.com.

                Beijo a todos.

                Shirley

terça-feira, 6 de abril de 2010

Um poema que expressa todos os nossos desejos




"Para Sara, Raquel, Lia e para todas as crianças"
Carlos Drummond de Andrade

Eu queria uma escola que cultivasse a curiosidade de aprender que é em vocês natural.
Eu queria uma escola que educasse seu corpo e seus movimentos: que possibilitasse seu crescimento físico e sadio. Normal
Eu queria uma escola que lhes ensinasse tudo sobre a natureza, o ar, a matéria, as plantas, os animais, seu próprio corpo. Deus.
Mas que ensinasse primeiro pela observação, pela descoberta, pela experimentação.
E que dessas coisas lhes ensinasse não só o conhecer, como também a aceitar, a amar e preservar.
Eu queria uma escola que lhes ensinasse tudo sobre a nossa história e a nossa terra de uma maneira viva e atraente.
Eu queria uma escola que lhes ensinasse a usarem bem a nossa língua, a pensarem e a se expressarem com clareza.
Eu queria uma escola que lhes ensinassem a pensar, a raciocinar, a procurar soluções.
Eu queria uma escola que desde cedo usasse materiais concretos para que vocês pudessem ir formando corretamente os conceitos matemáticos, os conceitos de números, as operações... pedrinhas... só porcariinhas!... fazendo vocês aprenderem brincando...Oh! meu Deus!
Deus que livre vocês de uma escola em que tenham que copiar pontos.
Deus que livre vocês de decorar sem entender, nomes, datas, fatos...
Deus que livre vocês de aceitarem conhecimentos "prontos", mediocremente embalados nos livros didáticos descartáveis.
Deus que livre vocês de ficarem passivos, ouvindo e repetindo, repetindo, repetindo...
Eu também queria uma escola que ensinasse a conviver, a coooperar, a respeitar, a esperar, a saber viver em comunidade, em união.
Que vocês aprendessem a transformar e criar.
Que lhes desse múltiplos meios de vocês expressarem cada sentimento, cada drama, cada emoção. Ah! E antes que eu me esqueça:
Deus que livre vocês de um professor incompetente.


Bom! Só o que posso dizer para completar é: Deus me livre de ser um professor incompetente para meus alunos!!!

Super Bjokas Pro Shirley

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Um pouco de biografia

A pouco tempo atrás, num curso, foi solicitado que fizessemos uma relato de nossa história de educação. Parei para pensar na minha história e gostei do que escrevi. Todos nós somos frutos das vivencias que tivemos, boas ou más, e todas estas vivencias formam nossas histórias de vida. Essa é a minha, espero que gostem!
Era uma vez uma menina de cinco anos, alta para sua idade, um tipo muito moleca, com duas grandes tranças negras, numa cidade pequena chamada Diadema e morando num bairro violento, chamado Campanário gostava de brincar de escolinha e dava aulas aos menores ou maiores que entravam na sua brincadeira.
Era um pouco autoritária porque era ela que sempre era a professora. Havia a algum tempo antes seduzido um tio que lhe dera de presente uma caixa de giz e seu padrasto lhe havia improvisado uma lousa com uma tábua que sobrara de uma de suas construções para que ela parasse de rabiscar as paredes. Sendo assim ela a dona da lousa e do giz, não havia espaço para discussões. Ela era a professora.
O engraçado é que mesmo sem saber escrever “de verdade” ela escrevia, copiava escritas de coisas que tinha próximo. Livros? Não tinha, sobrava mesmo as embalagens que a mãe deixava ela pegar ou que encontrava no lixo ou na rua. Com o tempo ganhou cadernos velhos com algumas folhas em branco. Isso não tinha importância. Desenhava, escrevia os nomes das crianças que estavam na brincadeira.
Na verdade essa menina já tinha demonstrado que sabia o que era escrita há algum tempo atrás. Com 4 anos, mais ou menos, arrumou um “namorado”, um rapaz de 27 anos que trabalhava com seu padrasto e que dizia que era namorado dela e foi para ele que escreveu sua primeira carta. Ninguém sabe ao certo o que estava escrito, porque do ponto de vista do adulto eram apenas muitas cobrinhas numa folha. Mas a menina, essa sim, sabia o que estava escrito e lia alegremente para quem quisesse ouvir a carta que entregaria para o “namoradinho”.
O bonito dessa história é que as pessoas que rodeavam essa menina eram, na sua grande maioria, analfabetos ou semi-alfabetizados, mas todos respeitavam a brincadeira dela e a respeitaram. Sem querer e sem saber todos estavam deixando e dando condições para que ela, brincando decodificasse o código da língua escrita.
Essa menina chegou a primeira série, sem fazer o “parquinho”, como era chamado a Educação Infantil da época, já alfabética. Por sorte sempre foi uma aluna adaptada à escola. A única reclamação das professoras era de que ela falava demais, nunca precisou repetir o ano, mas lembra-se muito bem de que quando entrou na primeira série tinham 4 salas com 35 alunos em cada, ficou na mesma escola até completar a oitava série, que só tinha duas classes com 25 alunos em cada. O que aconteceu com mais da metade dos alunos da primeira série que não chegaram à oitava? Isso já preocupava, não se sabe por que, os pensamentos da menina.
O seu irmão ia ser reprovado pela 2ª vez no quarto ano porque não entendia divisão e não entendia os problemas de matemática. A menina ensinou o irmão e dois vizinhos, brincando sério de escolinha e escrevendo no espelho do guarda roupas do quarto e contando com pedrinhas. Sua mãe ajudava trazendo-lhes bolo e suco para o intervalo, seu padrasto fornecia as pedrinhas para a contagem. Nenhum dos três foi reprovado, aprenderam a divisão e passaram na recuperação. Um vizinho adulto precisa aprender a escrever o nome para assinar a carteira de trabalho e foi procurar a menina, que então estava na sexta série. Ela ensinou ele também. A mãe da menina vendo tudo isso falou com ela que queria aprender a ler melhor e escrever melhor para preencher seus próprios cheques e pagar suas contas. É que a mãe da menina tinha, a essa época, um bar e fazia várias compras e pagava com cheques e estava sempre chamando a menina para preencher, mas quando a menina não estava, ficava sem graça de ter de pedir a outros. A menina conseguiu um livro de poesias e deu para sua mãe, o livro chamava-se Mar Negro. Elas liam e reliam essas poesias, copiavam e reescreviam as poesias uma para a outra, modificavam algumas palavras e quando viram sua mãe já preenchia seus próprios cheques.
A irmã de um colega não conseguia entender o que era sujeito e predicado e o irmão dela pediu ajuda a menina, agora mais crescida. A menina sentou perto de sua nova aprendiz e primeiro quis saber o que ela já sabia e como ela pensava algumas estruturas. Em três aulas a menina entendeu o que era sujeito e predicado.
Nesse movimento a menina foi ajudando na alfabetização de uns e outros, mas a grande alfabetizada foi ela mesmo que viu na necessidade dos outros a importância das letras e foi na formação do outro formando a si mesmo.
O que aconteceu com a menina? Fez magistério e hoje é professora “de verdade”!
Mil beijos
Pro Shirley

domingo, 28 de março de 2010

Até quando intervir na natureza??

Todo mundo conhece alguém cujo espírito de preservação da natureza o faz quase um descendente direto do Curupira, aquela figura mítica do folclore brasileira que protege animais e plantas da floresta. Essas pessoas não medem esforços para salvar formigas, aranhas, lagartixas e joaninhas dos sapatos e chinelos dos insensíveis e práticos que se sentem ameaçados por estes insetos. Jogam-se na frente dos chinelos e pegam os indefesos bichinhos e colocam-nos para fora com todo carinho, depois vem com aquela conversa sobre a invasão humana no habitat desses animais, o derretimento das calotas e na primeira oportunidade mandam-lhe um e-mail para assinar as lista para salvamento das baleias e focas do ártico.
Estou brincando um pouco, mas estas pessoas devem ser respeitadas, elas sentem de fato um amor imenso por tudo que é vivo. Engraçado! Exceto as baratas! Não conheço nenhum deles que queira salvar as baratas! Que doido né! Bom tudo bem, foi só um aparte.
Uma dessas pessoas trabalha comigo e voltou do almoço num dia desses, bastante entristecida e relatou a seguinte história...
Estava ela e outra colega de trabalho subindo a rua de sua casa no horário de almoço quando viu duas minhocas quase mortas por desidratação no asfalto próximo a calçada. Ela olhou e pensou: “Veja só! O homem mexe tanto na natureza e quem sofre são os pobres animaizinhos que não conseguem furar o asfalto e vão morrer se ficarem ai!” sem pensar mais nada e para espanto da colega que subia com ela, correu num ímpeto de salvar vidas e pegou as minhocas com todo cuidado colocou-as na palma da mão e levou-as até um canteiro próximo de onde estavam. Como um bom Elemental, protetor da natureza, observou que a terra deste jardim estava um pouco seca e que as minhocas, enfraquecidas, teriam dificuldade de entrar na terra, por isso colocou algumas folhas sobre as minhocas para protegê-las do sol e foi para casa terminar seu horário de almoço.
No retorno ao trabalho, antes de sair de casa pegou um potinho de iogurte no seu lixo reciclado e, ainda compadecida com a história da minhoca, pegou água para molhar a terra onde elas haviam ficado.
Acontece que ao chegar no canteiro onde as minhocas estavam e levantar as folhas que protegiam-nas do sol deparou-se com uma cena trágica e cruel... As minhocas estavam sendo comidas vivas por centenas de formigas. Ainda tentou jogar água nas formigas para que elas se afastassem, mas só o que conseguiu foi o deslocar de algumas delas, por fim frustrada e dando-se por vencida ela voltou ao trabalho deixando as minhocas como banquete das formigas.
Infelizmente não pude deixar de rir dessa história, tentei respeitar a dor da minha querida colega, mas ri muito.
Um pouco depois conversamos sobre o fato, de forma um pouco mais racional e coloquei minha opinião sobre estas interferências, para mim o que ocorreu é natural, é o que acontece quando ficamos tendo atitudes isoladas e sem controle no ímpeto de proteger a natureza. A natureza tem suas formas, que olhando nua e cruamente parecem cruéis, de resolver seus problemas como excesso de população de uma mesma espécie, reaproveitamento de restos e reciclagem. Isso é o ciclo da vida! A cadeia Alimentar. O ser humano é que, na tentativa de preservar alguns do que imagina ser crueldade de outros predaores, muitas vezes interfere e cria verdadeiras catástrofes por desequilíbrio e acaba levando diversos grupos de animais a extinção. É o caso de infestação de ratos, de pombos entre outros que sem predadores naturais acabam sendo problemas nas grandes cidades. Não que a ação de minha amiga fosse levar a isso, mas a questão não é só dela a de todos.
Na melhor das hipóteses algumas dessas pessoas cria problemas para si e para os vizinhos. Quem já não teve aquele vizinho que faz da sua casa um hospital e abrigo para animais e acabam criando uma fauna sem controle, infestando a vizinhança de pequenos insetos, como pulgas e carrapatos, mau cheiro e excesso de barulho. Não sou contra estes naturalistas urbanos, mas é preciso que se pense no respeito ao próximo, o que inclui também os animais que muitas vezes ficam presos em espaços pequenos e mal higienizados e com alimentação inadequada. Existem muitas ONGs e órgãos públicos que se responsabilizam pelo cuidado de animais abandonados, estes grupos possuem pessoal com formação e local adequado para acolher esses casos e podem buscar responsabilizar alguns casos, já que hoje é crime o abandono de animais.
Também sou a favor de salvar a natureza e garantir um mundo melhor para as novas gerações, temos de assumir nossa responsabilidade com o planeta, por isso reciclo meu lixo e óleo, reduzo a quantidade deles, busco alternativas biodegradáveis e busco passar para os pequenos com quem trabalho a importância de se respeitar a biodiversidade do planeta, participo de campanhas que visam a sustentabilidade do planeta, mas acredito que o salvamento de animais deve ser deixado para entidades e profissionais com condições melhores de intervenção, em vez de levá-los para casa ligue para as entidades ou leve o animal até eles, denuncie abandono e maus tratos, contribua financeiramente, seja voluntário. Você estará sendo mais responsável e isso também ajuda a salvar vidas.
O recado é este!!

Quem quiser alguns endereços e telefones, no Brasil, de Associações de proteção a animais abandonados acessem os sites:
http://www.projetoproanimal.com.br/Entidades.php
http://associacaoamar.spaces.live.com/
http://www.dispro.com.br/njv/aaa/historico.html

Esses são só alguns, tem muito mais!!!
Bjs CP Shirley.
 

domingo, 14 de março de 2010

Mais um pensamento de criança


O caso das bananas!!



Dona Sô, como toda boa mãe, dizia sempre a seu filho de 5 anos, que aqui chamaremos de Gu, que se recusava a comer frutas e legumes, as vantagens que, na visão dela, ele supostamente estaria perdendo. Mas seu mais repetido discurso era sobre a Banana: “Quem come banana não tem câimbra!” repetia ela várias vezes na semana ao filho que pretendia ser jogador de futebol. “Atleta precisa comer bananas porque bananas evitam câimbra!”
O menino olhava para a mãe e saia sem comer nenhuma bananinha, como se não estive entendendo o que sua progenitora insistentemente dizia.
Acontece que um dia a família estava indo em direção ao interior de São Paulo e passou por uma grande plantação de bananas. Gu olhou espantado para aquele “tantão” de bananas e concluiu:
----Mãe! Quem mora aqui não vai ter câimbras nunca, isso eu tenho certeza!!!

quarta-feira, 10 de março de 2010

Pensamento de Criança


Criança pensa e como pensa!


Na educação Infantil de 0a 3 cada sala tem 3 educadores. Um professor e dois auxiliares. No horário do almoço estes profissionais se revezam e saem enquanto as crianças dormem. Num desses dias, numa sala de 3 anos, a professora iria usar o horário do almoço para ir ao banco, por isso pegou sua bolsa e se despediu das colegas e das crianças que ainda estavam acordadas. A partir daí iniciou-se o seguinte diálogo por uma das crianças:
----- Porque você esta saindo com a bolsa?
----- Eu preciso ir ao banco! Respondeu a professora e saiu.
A menina continuou com a educadora que ficou na sala:
----- Porque ela tem de ir ao banco? Perguntou a menina.
----- Por que ela recebeu hoje e vai até lá pegar um pouco do seu dinheiro! Respondeu a educadora.
----- Ela recebeu o que?
----- O pagamento dela!
A educadora vendo a cara de dúvida que a menina fez resolveu explicar melhor a situação:
----- É que todo dia ela vem aqui ficar com vocês, brinca, conta histórias e no fim do mês a Prefeitura deposita um dinheiro para pagar pelo trabalho que ela faz!
A menina calou-se, deitou, não fez mais nenhuma pergunta e ficou com cara de emburrada. A educadora não entendeu, mas deixou quieto.
Quando a professora chegou viu a mesma menina sentada com os braços cruzados e cara emburrada para ela, perguntou a educadora o que aconteceu e ela contou-lhe sobre o diálogo e explicou que depois da conversa ela ficou daquele jeito.
A professora sentou-se ao lado da menina e perguntou:
----- O que houve? Porque você está brava?
A menina disparou:
----- Não é justo! Eu também venho aqui todo dia, brinco com você e a prefeitura não me da nem uma moedinha, só pra você!
As educadoras não conseguiram contem o riso e dessa vez quem não entendeu nada foi a menina!


Bom pessoaL por enquanto é isso!!

Bjkas Professora Shirley

terça-feira, 9 de março de 2010

Unesco Alerta sobre grave crise mundial na educação


PARIS (AFP) — Milhões de crianças em todo o mundo estão condenadas à pobreza no futuro, sem chances de ter acesso à educação, devido ao fracasso dos governos em suprimir as desigualdades sociais, segundo um relatório divulgado nesta terça-feira pela Unesco.
O documento que avalia a educação no mundo para 2009, intitulado "Superando a desigualdade: por quê o governo é importante", aponta uma série de disparidades "inaceitáveis", tanto a nível nacional como internacional, que acabam anulando os esforços para alcançar os objetivos de desenvolvimento global.
Ao indicar os responsáveis pela atual situação, o relatório da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco) denuncia a indiferença política, as fracas estratégias nacionais de educação e a atitude de doadores na hora de transformar suas promessas em atos.
A esse respeito, o diretor-geral da Unesco, Koichiro Matsuura, comparou a reação imediata dos governos frente à crise financeira atual, desembolsando trilhões de dólares, e a atitude em relação aos problemas educacionais.
"Quando os sistemas de educação estão em crise, sua repercussão é menos visível, mas não por isso menos real", explicou Matsuura.
"A desigualdade de oportunidades na educação é um fator de aumento da pobreza, da fome e da mortalidade infantil, e reduz as perspectivas de crescimento econômico", acrescentou.
E esta situação não atinge apenas os países pobres.
"Nos países em desenvolvimento, uma em cada três crianças - ou seja, 193 milhões ao todo - começam o ensino básico com problemas de desenvolvimento cerebral causados pela desnutrição, e com escassas perspectivas de adquirir uma boa educação", afirma o documento.
Quanto ao nível de escolarização global, "75 milhões de crianças em idade de freqüentar o ensino básico estão sem ir à escola em todo o mundo".
O relatório da Unesco adverte que as estatísticas relativas às crianças que não vão à escola são apenas um indicador parcial da magnitude do problema. Há, além disso, milhões de jovens que entram na escola e a abandonam prematuramente, sem terminar sequer o ensino básico.
Nos países ricos, mais de um terço dos alunos do ensino básico chega ao ensino superior e conclui seus estudos universitários. Por outro lado, na maior parte da África Subsaariana, apenas 5% deles chega à universidade, segundo o texto.
O grau de pobreza não é o único fator de desvantagem na educação. As disparidades entre meninos e meninas em matéria de escolarização continuam figurando como uma importante questão nas regiões da Ásia Meridional e da África Subsaariana.
O relatório cita ainda fatores de profunda influência, como o idioma, a raça, o grupo étnico e o local de domicílio (zona rural ou urbana).
A partir destes elementos, o documento alerta para as poucas chances reais de que se alcance, em 2015, o objetivo internacional de universalizar o ensino básico.
Segundo uma série de projeções parciais, em 2015 o número de crianças fora da escola chegará a 29 milhões, no mínimo, sem incluir os países em guerra.
Além disso, a Unesco questiona também a qualidade da educação, levando em conta o fato de que muitas crianças terminam o ensino básico sem ter adquirido habilidades elementares de leitura, escrita e matemática.
De acordo com o relatório, o analfabetismo também continua sendo um grave problema: estima-se que 776 milhões de adultos em todo o mundo (16% da população mundial) ainda não sabem ler nem escrever.
Dois terços dos analfabetos são do sexo feminino. E, se as tendências atuais persistirem, o mundo ainda terá 700 milhões de adultos analfabetos em 2015.
É duro pessoal!
Bjkas Shirley

quarta-feira, 3 de março de 2010

Uma história insólita sobre solidariedade!

O Brasil, infelizmente, ainda precisa aprender muito sobre respeito, de fato é quase graduado em desrespeito. Desrespeito as leis, aos direitos fundamentais do ser humano. Dentre este desrespeito todo, um deles é o desrespeito a memória da sua história, principalmente a memória viva que aparece através das belas e emocionantes histórias que são contadas pelos mais velhos.
Os idosos carregam consigo uma enorme quantidade de relatos que poderiam ilustrar a mais variada gama de conceitos para o desenvolvimento dos valores fundamentais à Educação em Direitos Humanos, que compreende como diz o texto de Clodolado Meneguello Cardoso: a percepção da diversidade, a consciência de igualdade e o sentimento de solidariedade. O resgate cultural e a sabedoria simples que se pode emanar durante uma conversa com uma pessoa mais idosa é algo imperdoável quando desprezado.
Por acreditar nisso que nunca fujo de uma boa conversa quando encontro um velhinho bom de papo. Num desses finais de semana conheci um senhor chamado carinhosamente de Seu Agostinho que me deu uma ótima história para ilustrar a idéia que se tinha de solidariedade há uns 60 anos atrás no interior de Minas Gerais. A história que me contou foi a seguinte:
Quando ele tinha uns 17 anos, nas paragens do interior de minas por onde morava era difícil carro e mesmo carroça não era todo mundo que tinha, sendo assim quando uma pessoa de família pobre morria a família do falecido tinha de levá-lo para o cemitério a pé.
A maioria das pessoas fazia os caixões e o velório em casa mesmo, e quando não tinham nem o caixão enrolavam o defunto numa rede. E o caixão ou a rede eram pendurados em duas varas de madeira e em comitiva um grupo de parentes saia de casa carregando o difundo nos ombros. Segundo ele o grupo ia em marcha rápida quase correndo. Ao longo do caminho quando avistavam alguma pessoas eles começavam a gritar:
----- Caridade, caridade, caridade!!
Ao ouvir isso as pessoas paravam de fazer o que estavam fazendo e rendiam as pessoas que estavam carregando o defunto e corriam levando o corpo por uns 10 ou 15 minutos à frente, tempo para que os parentes se recuperassem do cansaço e dores no ombro causado pelo peso do caixão e a correria. Esse movimento era repetido por várias pessoas, durante o percurso, até que chegassem ao local do enterro.
Segundo seu Agostinho, no enterro mesmo acabava chegando só os parentes do falecido que haviam saído de casa juntos, o restante das pessoas que ajudavam iam ficando pelo caminho, cada um há seu tempo dando um pouco de caridade durante o trajeto.
É pessoal acho que naquela época, apesar das inúmeras dificuldades, pelo menos o pessoal de minas onde seu Agostinho nasceu era mais solidário.
Super Beijos
Professora Shirley