Eu nasci em São Paulo, bem no
centro, no hospital São Paulo. Filha de uma mineira, com 1 metro e meio, que contanto
até o último fio de cabelo, dava 1,53 e que aos 21 anos de idade mandou
arrancar todos os dentes e colocou dentadura. Acreditava ser mais
fácil e barato cuidar da dentadura do que escovar os dentes de verdade! Sério! Nunca conheci os dentes de
minha mãe. Quando eu nasci ela já usava dentadura!
Meu pai um negro de dois metros e cinco de altura, isso mesmo 2,05 metros, segundo minha mãe muito bonito, por quem ela fora realmente apaixonada. Mas o sujeito bebia, ficava ciumento e batia nela. Resultado: Depois de uma briga em que minha pegou uma faca e jogou de longe grudando a orelha de meu pai na parede do barraco em que moravam, ela foi embora. Considero minha mãe uma heroína, porque naquela época a mulheres ficavam apanhando e ela tomou outra decisão, uma mulher pequena, mas muito forte.
Não pense que esta história me entristece! Sou só mais uma brasileira com histórias desse tipo e que deu certo. Na verdade me considero uma pessoa de sorte, a começar pelo meu nome! Meu nome é Shirley porque todos os anjos e demônios estavam de plantão quando minha mãe, semi analfabeta, deu a meu pai, analfabeto de várias gerações, um pedaço de papel e um lápis preto e mandou que ele fosse até ao cinema copiar o nome da artista principal, Shirley Macklaine, que era o nome que ela queria para sua filha que acabara de nascer, eu. Sendo o Brasil um país onde os pais colocam o nome que querem nos filhos, (Xerox, Fotocópia e Autenticada que não me deixam mentir) e considerando que meu pai foi sozinho, isso mesmo sozinho copiar o nome e depois fazer o meu registro, na melhor das hipóteses eu poderia ter me chamado “Estrelando”, no entanto meu pai fez a cópia correta, até com Sh e Y. Só por isso posso me considerar uma pessoa de sorte.
Bom o primeiro casamento de minha mãe não deu certo, ela foi embora, comigo pela mão com um ano e meio e com meu irmão no colo, com sete meses, para casa de minha tia Dona Merces, a megera! Não posso dizer que a detestava, tinha até uma ponta de agradecimento, porque de uma forma ou de outra ela nos acolheu por quase um ano na sua pensão. Tudo bem que para isso minha mãe tinha de trabalhar para ela a troco de comida. Eu só ia almoçar quase duas horas da tarde quando o movimento diminuía e minha mãe podia parar para me alimentar. Meu irmão, Michel, nessa época começando a engatinhar ficava com o pezinho amarrado na mesa para não subir na cama da minha tia. Difícil, mas verdade, ela não gostava de ninguém na cama dela. Era uma velha louca que não gostava de fato de ninguém, nem dela mesma, mas que dentro dessa loucura nos ajudou. A vida deu voltas e tempos depois ela perdeu tudo e minha mãe a acolheu, de forma muito melhor do que foi acolhida, mas isso é outra parte da história, para outro dia. Foi nesse lugar que minha mãe conheceu seu João Benício, que vira a ser meu padrasto.
Meu pai um negro de dois metros e cinco de altura, isso mesmo 2,05 metros, segundo minha mãe muito bonito, por quem ela fora realmente apaixonada. Mas o sujeito bebia, ficava ciumento e batia nela. Resultado: Depois de uma briga em que minha pegou uma faca e jogou de longe grudando a orelha de meu pai na parede do barraco em que moravam, ela foi embora. Considero minha mãe uma heroína, porque naquela época a mulheres ficavam apanhando e ela tomou outra decisão, uma mulher pequena, mas muito forte.
Não pense que esta história me entristece! Sou só mais uma brasileira com histórias desse tipo e que deu certo. Na verdade me considero uma pessoa de sorte, a começar pelo meu nome! Meu nome é Shirley porque todos os anjos e demônios estavam de plantão quando minha mãe, semi analfabeta, deu a meu pai, analfabeto de várias gerações, um pedaço de papel e um lápis preto e mandou que ele fosse até ao cinema copiar o nome da artista principal, Shirley Macklaine, que era o nome que ela queria para sua filha que acabara de nascer, eu. Sendo o Brasil um país onde os pais colocam o nome que querem nos filhos, (Xerox, Fotocópia e Autenticada que não me deixam mentir) e considerando que meu pai foi sozinho, isso mesmo sozinho copiar o nome e depois fazer o meu registro, na melhor das hipóteses eu poderia ter me chamado “Estrelando”, no entanto meu pai fez a cópia correta, até com Sh e Y. Só por isso posso me considerar uma pessoa de sorte.
Bom o primeiro casamento de minha mãe não deu certo, ela foi embora, comigo pela mão com um ano e meio e com meu irmão no colo, com sete meses, para casa de minha tia Dona Merces, a megera! Não posso dizer que a detestava, tinha até uma ponta de agradecimento, porque de uma forma ou de outra ela nos acolheu por quase um ano na sua pensão. Tudo bem que para isso minha mãe tinha de trabalhar para ela a troco de comida. Eu só ia almoçar quase duas horas da tarde quando o movimento diminuía e minha mãe podia parar para me alimentar. Meu irmão, Michel, nessa época começando a engatinhar ficava com o pezinho amarrado na mesa para não subir na cama da minha tia. Difícil, mas verdade, ela não gostava de ninguém na cama dela. Era uma velha louca que não gostava de fato de ninguém, nem dela mesma, mas que dentro dessa loucura nos ajudou. A vida deu voltas e tempos depois ela perdeu tudo e minha mãe a acolheu, de forma muito melhor do que foi acolhida, mas isso é outra parte da história, para outro dia. Foi nesse lugar que minha mãe conheceu seu João Benício, que vira a ser meu padrasto.
Nordestino,
bronco, trabalhador, homem do tempo que se
empenhava a palavra com os fios do bigode e que
palavra dada era cumprida. Minha
mãe ficou grávida do tal Sr. João, brigaram e se separam. Ela deu a luz a uma menina, minha irmã Geisa.
Sozinha, com três crianças pequenas, morando na casa da irmã, doida, sem
perspectiva de futuro, entrou em desespero, e no auge deste, levou os filhos
para o prédio do juizado de menores que ficava próximo a
estação São Judas do Metro. Pretendia entregar as crianças para que, se tivessem sorte, fossem adotadas. Como ainda eram pequenas,
tinham mais chance. Acreditava realmente que estava nos dando a possibilidade
de uma vida melhor.
Conversou
com uma assistente social e com uma psicóloga, e graças a análise dessa segunda
recebeu uma ajuda financeira do estado para ficar com as crianças. A psicóloga concluiu que minha mãe, visivelmente em
depressão, quadro do qual ela nunca se curou de fato, se atiraria do Viaduto do
chá quando saísse dali, tinha claras intenções de suicídio e não queria entregar
os filhos por negligência e sim por amor. Ela tinha razão em tudo.
Não
existia o bolsa família, mas havia a pensão, mais difícil de conseguir. Nós conseguimos. Graças a esta ajuda minha mãe voltou para casa com os filhos.
Arrumou as malas e decidiu que iria voltar para sua terra natal, morar com a
mãe em Minas Gerais.
Foi até o bairro do Campanário, em Diadema, para que o Sr. João se despedisse da filha. Já estava mesmo com as malas, dali iria direto para a rodoviária e pegaria um ônibus para Minas Gerais, mas, (que bom que sempre existe um mas) o Sr. João não deixou, ao ver a filha mandou descer as malas, e com aquele jeito de homem machão, bronco mas que não foge a sua responsabilidade, (tipo que andou fora de moda por um tempo) não a deixou ir. Assumiu a mulher e as três crianças.
Foi até o bairro do Campanário, em Diadema, para que o Sr. João se despedisse da filha. Já estava mesmo com as malas, dali iria direto para a rodoviária e pegaria um ônibus para Minas Gerais, mas, (que bom que sempre existe um mas) o Sr. João não deixou, ao ver a filha mandou descer as malas, e com aquele jeito de homem machão, bronco mas que não foge a sua responsabilidade, (tipo que andou fora de moda por um tempo) não a deixou ir. Assumiu a mulher e as três crianças.
Passamos a primeira noite num quartinho
que ele dormia com um irmão. No dia seguinte ele já havia alugado uma casa e
comprado fogão cama e geladeira e mudado para lá com toda a nova família. Eles viveram juntos até que a morte os separou, levando primeiro minha mãe. Meu
padrasto nunca quis ser chamado de pai, nem mesmo pela própria filha que o
chama de Tio até hoje, por isso eu o chamo de JB (João Benício), mas nem por
isso o amo menos que qualquer filho pode amar a um pai e devo a ele tudo que
sou, que do seu jeito foi o melhor pai que eu poderia querer. E esse é só o começo da minha história de
brasileira, corinthiana, sofredora, mas com sorte! Isso ninguém pode negar! Graças a Deus!
Bjokas Shirley